A prevenção é o melhor remédio

Os exames preventivos, a confirmação do diagnóstico e o acesso a um tratamento efetivo e imediato são direitos garantidos por lei 
25 de outubro de 2021 > Notícias

Não é somente no desempenho da função nas esferas judiciais que as histórias das promotoras de Justiça Luciana Ribeiro Lepri e Valéria Teixeira de Meiroz Grilo se assemelham. Além dos combates em tribunais, as duas superaram um diagnóstico ruim.   

A Promotora de Justiça aposentada Valéria Teixeira de Meiroz Grilo, 59 anos, acreditou que estava lidando com as consequências de uma mastite (inflamação das mamas), mas era um nódulo. “Receber a notícia de que se tem um tumor na mama é sempre assustador. A sensação de temor ao fazer uma biopsia”, relembra.   

Apesar da segurança oferecida pelo médico ao afirmar sobre a grande chance de tratamento de um tumor benigno, isso não reduziu o choque do diagnóstico inicial. Até pela memória emocional que a Promotora tem com o câncer. Na adolescência, ela teve contato próximo com a doença, ao ver de perto o processo da mastectomia (retirada da mama) da avó materna. Nesse período, a avó estava se recuperando (pós-operatório) na casa dos pais de Valéria. “Foi traumático e ao mesmo tempo um sinal de alerta. Naquela época eu não tinha condições de avaliar a situação”, recorda.   

 Valéria teve mais sorte que a avó; os exames confirmaram um tumor benigno. Mas, desde então, a Promotora aposentada faz o acompanhamento com a realização de mamografia e ecografia mamária e sabe da importância do diagnóstico precoce. “Sou bem cuidadosa, sei que o diagnóstico precoce pode preservar a vida, além de permitir um tratamento menos traumático”.     

Para ela, outro fator fundamental é a informação: “É importante o conhecimento teórico, fazer o autoexame e ficar alerta a qualquer alteração”. Mãe de duas mulheres, Valéria não se cansa de orientar as filhas sobre a necessidade de práticas saudáveis como medidas preventivas. “Há fatores de risco que não se pode fugir, mas há outros em que se pode ter uma postura atenta para a prevenção e detecção precoce. Oriento minhas filhas sobre a amamentação, atividade física e a alimentação, prioridades na agenda familiar”.    

Para a Promotora ainda existe um tabu, mesmo em pessoas com mais acesso à informação, em falar da saúde da mulher, tanto em relação à mama quanto aos órgãos de reprodução, o que atrapalha a realização de práticas saudáveis como medidas preventivas.    

 

Prevenção reduz mortalidade     

O Ministério da Saúde recomenda que mulheres entre 50 e 69 anos façam a mamografia a cada dois anos, mesmo que não apresentem sintomas da doença. Foi por meio de um exame preventivo que, aos 50 anos, a Promotora de Justiça aposentada Luciana Ribeiro Lepri recebeu o diagnóstico de câncer de mama.   

Era dezembro de 2014, quando soube que tumor era maligno, Luciana se licenciou da Promotoria de Execução Penal, em Curitiba, para iniciar o tratamento. Fez cirurgia e 40 sessões de radioterapia. “Enfrentei tudo sozinha e para não me sentir isolada, distribui chocolates na clínica. Depois entendi que não estava só, estava comigo mesma”.  

 O tumor era pequeno e os médicos consideraram que somente a radioterapia daria conta do problema, mas não foi o que aconteceu. Em meio a doença, Luciana buscou realizar seus sonhos e maneiras de se distrair para não ficar focada no problema. Foi aprovada para cursar o mestrado nos Estados Unidos. “Minha vontade de viver era muito grande e não queria me vitimar. Fui buscar maneiras de distrair a mente e permitir que meu corpo criasse resistência para combater a doença”.  

Ter ido estudar nos Estados Unidos possibilitou a ela realizar o exame para mapear o DNA do tumor e descobrir que seria necessária a quimioterapia. O exame detectou que a chance de retorno do câncer era de 93% num prazo de 10 anos. “Foi um tempo muito difícil, mas nunca me entreguei a doença, nunca me posicionei como vítima ou tive pena de mim”.  A condição de estudante lhe possibilitou realizou o exame de forma gratuita, pois os tratamentos de saúde nos Estados Unidos são muito caros.  

 A época, quando estava licenciada do Ministério Público como estudante, ela morou em Washington com o filho caçula, Diogo, a época com 11 anos. Foi lá que teve a oportunidade de estagiar no escritório do ex-vice-presidente Al Gore para a realização de uma pesquisa sobre mudança climática no Brasil e posteriormente, o convite para ser consultora do departamento jurídico do Banco Mundial. 

Ela também criou a marca de bolsas Lu Lepri, um talismã de que é possível extrair algo positivo de uma situação ruim. As bolsas têm um seio estilizado, que ela considera um símbolo de poder e são comercializadas online e na famosa rede americana Bloomingdale´s.  Luciana não se entregou ao câncer e buscou o autoconhecimento para enfrentar a adversidade. Fez uma série de cursos, meditação, autoajuda, técnicas de poder da mente, barra de acesso, entre outros. Agora, está firmando parceria com a Associação Paranaense do Ministério Público (APMP) para auxiliar pessoas que queiram mudar de carreira ou passar em concursos públicos, por meio de Hipnoterapeuta e Mentoria Emocional. “O câncer foi a minha virada de chave, ele me ensinou a viver. Tenho obrigação, no mínimo, de ajudar outras pessoas a fazerem o mesmo”.   

Atualmente mora em Turim, na Itália, com Diogo, que está com 18 anos, e faz faculdade de desenho automotivo. Quanto aos outros dois filhos, Olavo acaba de se formar em Direito e faz Pós-Graduação em Direito Constitucional no Brasil; e Victor faz mestrado em piano jazz, em Nova York, e gerencia o departamento de TI de uma multinacional da Suíça.  

 

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