Família Restaurativa busca auxiliar na redução da violência contra crianças e adolescentes 

Projeto é reconhecido com Selo do CNMP 
29 de outubro de 2021 > Gerais

A proposta do projeto “Família Restaurativa” é usar os processos circulares de diálogo e de justiça restaurativa com grupos de adultos investigados pela prática de violência física leve e episódica contra crianças e adolescentes, sob pretexto educativo

A subprocuradora-geral de Justiça para Assuntos de Planejamento InstitucionalSamia Saad Gallotti Bonavides, explica que “O projeto Família Restaurativa atende ao segmento de inovação de práticas no Ministério Público do Paraná (MPPR). O Núcleo de Prática e Incentivo à Autocomposição (NUPIA) traduz estas demandas à luz das novas possibilidades de atuação. Isso é o anseio institucional por resultados socialmente mais eficazes”.  

A iniciativa foi contemplada com o Selo de reconhecimento do Projeto Respeito e Diversidade no Prêmio CNMP 2021, na categoria Persecução Cível e Penal. Realizado pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), em conjunto com o Ministério Público Federal (MPF) e a Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU), o objetivo é a contribuição na reflexão, discussão e realização de iniciativas que promovam a cultura do respeito à diversidade humana e ao pluralismo de ideias e opiniões. “Esta iniciativa, sem dúvida foi bem-sucedida, fez jus à indicação e ao selo recebido, tendo trazido um sentimento de satisfação a todos: participantes que foram convidados (famílias) e os envolvidos na realização (a equipe do NUPIA e de outras unidades do MPPR) ”, avalia a Procuradora. 

Para o Promotor de Justiça designado no NUPIA, Willian Lira de Souza, o reconhecimento serve tanto para a divulgação do projeto quanto para despertar a reflexão dos agentes de justiça, principalmente o Ministério Público, para outras possibilidades de atender sua missão constitucional. “O que foi feito tem fundamento jurídico e constitucional e mostra o protagonismo do MP dentro da sociedade”. 

Método  

Os círculos de justiça restaurativa são usados para promover reflexões e o empoderamento das crianças e dos adolescentes vinculados ao adulto (pessoas envolvidas em um conflito), quebrando o ciclo de violência entre gerações. Ao final das práticas circulares de reflexão com cada grupo separado, adultos e crianças se reúnem em um único círculo e buscam uma resposta adequada ao caso por meio do diálogo. Isso implica na responsabilização restaurativa do adulto e no comprometimento da manutenção de uma relação saudável e livre de violência com a criança/adolescente, que também assume o seu papel nesse compromisso. O projeto demonstrou que é possível o sistema de justiça dar um atendimento diferente da simples punição para casos bem complexos, que envolvem crianças que foram vítimas de agressão e pais, que muitas vezes se encontram em situação de vulnerabilidade”, avalia Souza.  

Para ele, o projeto demonstrou ainda que esse tipo de abordagem é mais resolutiva para a família e tem potencial de ser mais preventiva do que a pena, além de possibilitar que se rompa o ciclo hereditário de violência, que é transmitido de geração em geração”. 

Como funcionou  

Foi realizada uma triagem e convites aos participantes para uma fase denominada pré-círculo. Nela, os facilitadores do MP esclareceram sobre a atividade e colheram a anuência de todos os envolvidos. Foi feita, então, uma primeira avaliação psicológica pela equipe do Núcleo de Apoio Técnico Especializado (NATE). Indicada a viabilidade e segurança do trabalho, foram feitos palestras e círculos de diálogos com grupos de adultos e de crianças/adolescentes, separadamente. Somente em um segundo momento, nos casos em que houve essa possibilidade, as famílias foram unidas em um círculo integrado e restaurativo. Posteriormente, as entrevistas avaliativas, realizadas pela equipe de psicologia do NATE, tiveram o propósito de verificar o impacto do projeto na percepção dos adultos e crianças acerca do uso da violência como ferramenta de disciplinamento e de educação e da melhora das competências parentais.  

Ao total, 11 casos, dos 60 Inquéritos que participaram da triagem, chegaram ao final do projeto, havendo o pleno cumprimento do acordo em três casos e o parcial nos demais, mas com indicativos de impactos positivos em todos os ambientes familiares. Os resultados contribuíram para a Promotoria de Justiça oferecer uma solução diferenciada aos casos penais, quando foram cumpridos os requisitos de participação e do acordo.  Houve arquivamento dos inquéritos com base na ausência de justa causa para a denúncia, em razão do atingimento da pacificação social, do respeito ao melhor interesse da criança (que vê os vínculos com seus familiares preservados) e no princípio do uso do direito penal como último recurso.  

O trabalho foi realizado de forma embrionária pelo NUPIA, em parceria com o setor de Psicologia do NATE e o Centro de Apoio Técnico à Execução (Caex) de Curitiba e com a 1ª Promotoria de Justiça de Infrações Penais contra a Criança, o Adolescente e o Idoso.  

 

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