Jornalista investigativo Allan de Abreu faz um panorama sobre o crime organizado no Brasil

Veja como foi o Café com Letras da APMP, que teve sua primeira edição totalmente on-line
29 de julho de 2022 > Diretoria, Eventos Culturais

Na noite desta terça-feira, 26 de julho, a APMP realizou a primeira edição totalmente on-line do Café com Letras. O convidado foi o jornalista investigativo paranaense Allan de Abreu, que trouxe um panorama sobre o crime organizado no Brasil. 

Ao iniciar o bate papo, André Tiago Pasternak Glitz, presidente da APMP, destacou sobre a importância de buscar temáticas, para os associados, que possuam uma relação com a atuação do Ministério Público, porém, sob uma perspectiva diferente do que uma palestra tradicional de Direito: “Temos buscado trazer cientistas políticos, economistas, professores que trabalhem com a temática da nossa atuação, e é o que nós buscamos fazer neste Café com Letras com o jornalista Allan de Abreu”.  

O presidente da APMP compartilhou como conheceu o trabalho do jornalista investigativo: “Há cerca de três anos, entrei em uma livraria no shopping, me deparei com este livro ‘Cocaína: A rota caipira’ do Allan e, como o título me chamou a atenção, comprei o livro. Desde então sou um entusiasta do trabalho do jornalismo investigativo que o Allan pratica e que nós vemos crescendo no Brasil. O Allan, particularmente, tem um estilo de escrita que prende a nossa atenção do começo ao fim”.  

Allan de Abreu explicou como nasceu a ideia de escrever o livro “Cocaína: A rota caipira”: “Passei a acompanhar e me especializar nessa área (operações policiais) e notei que a personalidade do criminoso era muita rica, porque o criminoso narcotraficante tem suas particularidades, pois o tráfico é um crime que se alonga no tempo, não é como um homicida, que comete um crime naquele espaço de tempo. Já o traficante é quase um empresário do crime. Então, ao cobrir essas operações policiais eu concluí que valeria fazer um livro sobre essas operações, seguindo a Rota Caipira, termo já existente na imprensa e na própria polícia, que se entende, pela região compreendida pelo interior de São Paulo, o triângulo mineiro e o norte e oeste do Paraná, justamente pela proximidade da fronteira com o Paraguai (no caso do Paraná) e por uma questão geográfica porque são regiões com uma estrutura viária muito boa, que possibilita o escoamento fácil da cocaína, tanto por via terrestre quanto aérea”. 

Com o trabalho desta obra, foram cinco anos de pesquisa, 82 mil páginas de processos, viagens para diversos estados do Brasil, além de outros países como a Bolívia. Allan de Abreu falou sobre o mercado da coca, na Bolívia; os laboratórios de produção de coca; a Rota Caipira; a criatividade do tráfico para despistar a fiscalização da polícia e da Receita Federal; e a exportação da cocaína. 

O jornalista da Revista Piauí também tratou sobre a história dos grandes barões do pó, como Luiz Carlos da Rocha, conhecido popularmente como “Cabeça Branca”, de Londrina/PR, considerado o maior traficante de cocaína no Brasil. Allan de Abreu contou que, apesar de ter abordado a história do “Cabeça Branca” no Livro “Cocaína”, por ser uma história tão rica, decidiu escrever um novo livro somente sobre a trajetória dele. Portanto, o livro “Cabeça Branca” é um galho do livro “Cocaína”. Além disso, Allan citou a história de Mário Sérgio Machado Nunes, que foi piloto do tráfico nas décadas de 80 e 90; Luciano Geraldo Daniel, o “Tio Patinhas”, que exportava múltiplas toneladas de cocaína para a Europa e os Estados Unidos; Joseph Eddine Nasrallah, o “Sheik”, que comandava a exportação de cocaína para Europa e Líbano; os irmãos Jaber, nascidos no Líbano e radicados em São Paulo; e Amado Carrillo Fuentes, o “Mexicano”.  

O Primeiro Comando da Capital (PCC) também foi citado por Allan de Abreu, que detalhou o funcionamento da maior organização criminosa do Brasil, com principal atuação em São Paulo e, em segundo lugar, no Paraná, além de países próximos como Paraguai, Bolívia, Colômbia e Venezuela. 

Por fim, Allan trouxe comentários sobre como vê, a partir de sua experiência, o futuro das investigações no Brasil e como o fenômeno do PCC pode ser enfrentado: “O criminoso sempre vai estar um passo à frente e os órgãos de persecução penal vão correndo atrás. O criminoso bem sucedido tem inteligência e tem capacidade, nós achamos que não e, eu acho que, no caso do PCC, no começo de sua história, houve uma tentativa de diminuir o PCC por dizerem se tratar de semi analfabetos no sistema prisional. Porém, nós vimos no que isso se transformou hoje. Então, nós não podemos menosprezar o poder e a capacidade de um criminoso, pois eles só pensam em como driblar os órgãos de persecução penal. Essa questão de lavagem de dinheiro passa por especializar os agentes do estado, até mesmo porque, hoje em dia, existem novos formatos de lavagem, como no caso de criptoativos. A criptomoeda é o futuro da lavagem de dinheiro. Também tem sido explorado o mercado de ouro, o contrabando de madeira, entre outros. Então nós temos que conhecer as modalidades criminosas a fundo para combatê-las”. 

Allan de Abreu citou o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), que é um exemplo de como esses criminosos podem ser combatidos: “O GAECO é um exemplo bem sucedido disso. A criação dos GAECOS dos Ministérios Públicos estaduais foi fundamental. Quantas investigações importantes foram feitas, por GAECOS do Paraná, de São Paulo, de vários estados”.  

Após o agradecimento do presidente da APMP, Allan encerrou o Café com Letras com uma reflexão: “Foram 790 traficantes listados no meu livro e nenhum teve um final feliz. É preciso deixar isso claro, pois, às vezes, algumas pessoas erram ao glamourizar demais a atividade criminosa, mas precisamos lembrar que o caminho de todas essas pessoas é cadeia ou cemitério”. 

Confira aqui a apresentação completa de Allan de Abreu, exposta durante o Café com Letras. 

SORTEIO 

Ao final do Café com Letras, a APMP realizou um sorteio de 4 unidades das obras de Allan de Abreu. Confira abaixo os sorteados. 

Ganhadores do livro "Cocaína: A rota caipira" 

Gislaine de Abreu Stadler; 

Maria Lúcia Figueiredo Moreira. 

Ganhadores do livro “Cabeça Branca: A caçada ao maior narcotraficante do Brasil” 

Leonir Batisti; 

Francisco Ilídio Hernandes Lopes. 

Em breve a Associação entrará em contato com os ganhadores para falar sobre a entrega dos livros. 

Assista aqui a transmissão completa do Café com Letras.  

Veja aqui as fotos do encontro. 

Gostou desta edição? Então aproveite para marcar na sua agenda a próxima, que já tem data confirmada! Será no dia 25 de agosto. Em breve serão divulgadas mais informações

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